sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Coluna Fique Sabendo - Modernidade



Ontem presenciei um dilema de minha sobrinha e isso me fez viajar no tempo... 


Tinha 15 anos e ninguém tinha celular pelo simples motivo que não havia sido inventado ainda, (Credo! Falando assim posso parecer pré-histórica, mas o pior é que nem faz tanto tempo assim...). 
MSN, Orkut? 
Isso muito menos! 
Como não tínhamos tecnologia para administrar nosso tempo e nossos amigos o jeito era usar o que tínhamos.
 O que tínhamos? 
Bom... Acho que simplesmente, Sonhos! 
Toda criança e jovem daquela época, não ficava em casa além do tempo para comer, estudar (nem todos) e dormir, o resto do tempo estávamos na rua, literalmente, em toda esquina havia um “grupinho” conversando, tocando violão, e essas esquinas acabavam se tornando ponto de encontro de determinada “turma”, era assim que era chamado o grupo de amigos que tinham um sentimento de irmandade, o que atingia um dos integrantes, atingia o grupo, se um deles fosse convidado para uma festa, o convite era extensivo a turma, era quase impossível ficar sozinho.
Sempre havia um amigo tocando a campainha ou gritando no portão, Solidão? 
Depressão? 
Ansiedade? 
Isso eram sintomas da vida adulta.

Sonhos! Expectativas e acima de tudo, Amizade! 
Isso eram sintomas de juventude.

Hoje, prestando atenção em minha sobrinha, que também está com 15 anos, tomei consciência de como as “coisas” mudaram! 

Quase não se escuta a sua voz, sempre trancada no quarto as voltas com o seu netbook, segundo ela conversando com os seus amigos, (mais de 1500, sempre diz com o maior orgulho!) 
Difícil ver um sorriso franco em seu rosto.
 Sempre reclamando que está engordando (Pudera, exercício físico? Só se considerarmos o percurso do quarto para o banheiro umas 04 vezes ao dia, do quarto ao carro para ir a escola e da escola para o carro para voltar para casa, ou melhor para o quarto, acho que isso não queima muita caloria não é?) 

Ansiedade? 
Isso eu descobri o que era vendo o seu desespero para encontrar um amigo, que fosse com ela ao show de uma dupla famosa, que iria se apresentar na cidade.
Ela queria muito ir ao show, porem não sozinha, e estava simplesmente desesperada! 
Quase chorando, me contou o seu problema, eu na maior ignorância, não entendi a princípio qual era a dificuldade, afinal uma pessoa que tem mais de 1500 amigos, é impossível não encontrar nenhum disponível para assistir a um show, não acham? 

E na maior inocência fiz a seguinte pergunta: 
“Querida! Mas qual é o problema? Nenhum dos seus amigos gosta dessa dupla?” 
E ela aí sim, chorando gritou: 
“Que amigos tia! Eu sou a pessoa mais só desse mundo, não tenho nenhum amigo!” 
E eu sem entender nada, retruquei: 
“ O que aconteceu com os seus 1500 amigos?”
E ela fatidicamente: 
“Tia! São amigos virtuais, nenhum mora na cidade, não tenho certeza nem mesmo se os seus nomes são verdadeiros.” 
Minha cabeça quase deu um nó, quer dizer que ela passava praticamente todo o tempo em que estava acordada, conversando com pessoas que nem sequer sabia se eram verdadeiras, se existiam pelo menos? Só nesse momento percebi o que a palavra “solidão” queria dizer, e com muita pena dela, me ofereci para ir ao tal show com ela, o que logicamente foi aceito com muita alegria por parte dela e graças a Deus.
A dupla era boa! 

Aprendi uma coisa muito importante com esse episódio.

“Melhor a dor da saudade.
Do que a falta de motivos para sentir saudade”. 

Um beijo e até a próxima... 


Ione de Castro 


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